VISITA À TERRA QUENTE TRANSMONTANA



Em plena campanha da azeitona, nada melhor que aproveitar a jornada Olivoturismo/Enoturismo organizada pela Associação Portuguesa de Horticultura, com sede em Lisboa, para verificar in loco como é que os nossos olivicultores cuidam dos olivais, apanham a azeitona… e decorrem também os trabalhos de produção do azeite seja em lagares tradicionais ou modernos. Tivemos oportunidade de comprovar tudo isso na visita que fizemos a Mirandela e à Cooperativa de Olivicultores de Valpaços.

Como o azeite Transmontano, com destaque para o Rosmaninho, tem obtido vários prémios devido às suas características e qualidades organoléticas, como seria bom degustá-lo na presença dos entendidos e durante as refeições, saboreando opíparos manjares, preparados à base das carnes, enchidos e outros produtos, onde não faltam as batatas, couves, espigos e grelos regionais! E tudo bem regado com o precioso néctar dos vinhos de Trás-os-Montes!

Se tal era a aposta dos organizadores da excursão, também foi esse um dos objetivos visados ao inscrever-me.

Com ponto de encontro em Sete Rios, donde saímos rumo ao Norte, o grupo de participantes da Associação Portuguesa de Agricultura provenientes de vários locais do País, deslocou-se a Mirandela e Valpaços, ligando assim o Olivoturismo/Enoturismo à Castmonte e aos magustos de S. Martinho.

Na princesa do Tua, cuja beleza citadina e urbana muito nos deliciou, além de testemunharmos no respetivo Museu e ao vivo a importância da Oliveira e do Azeite, tivemos provas gustativas deste excelente produto e pudemos admirar também a beleza da paisagem aquando da visita ao olival, onde participámos na colheita manual da azeitona.

Quando chegou o momento de vermos a mó de um lagar tradicional cuja moenda se processa ainda em moinhos de pedra, as imagens ali recolhidas depois que saboreámos as gostosas sopas de pão centeio torrado e embebido em azeite, permitiu-me recordar e reviver o que na minha aldeia natal era prática diária nos longos dias e noites de inverno dos anos 1940, década em que nasci.

Então, no lagar artesanal da atafona aldeã, se podia contemplar e seguir atentamente o andar pachorrento do boi que fazia girar a mó de pedra, também podia aquecer-me à volta da fornalha enquanto estava á espera que alguém me oferecesse a tão apetecida torrada – também designada sopa – depois de embebida naquele delicioso produto acabado de extrair da azeitona, varejada e recolhida por homens e mulheres em árdua labuta campestre.

Num plano mais elevado via os trabalhadores – todos artesãos da aldeia – que depois de encherem as ceiras com a massa da azeitona transportada em gamelas, usavam pesos e a força da prensagem até extraírem dos capachos/cinchos a última gota do tão precioso produto.

A baga resultante servia para alimentar a fornalha geradora do calor para aquecimento da água necessária à extração do azeite e aquecia também a pequenada naqueles dias frígidos de inverno.

Como “em tempo de guerra a fome grassava na terra”, quando a colheita era fraca devido aos maus anos agrícolas e à seca, como aconteceu no verão deste aziago ano de 2022, mais se impunha economizar quer para garantir o auto abastecimento da família quer para satisfazer os contrabandistas ambulantes.

E porque naquela época a campanha da azeitona decorria preferencialmente entre o Natal e os fins de janeiro, coincidindo com a matança do porco e o cantar dos Reis, tempo propício às reuniões e convívios familiares, aproveitava-se também o calor da lareira para extrair resíduos de azeite provenientes do “inferno[1]mas ainda bons para consumo depois de as “cabeças nele apuradas” serem aquecidas em grandes potes fumegantes, colocados junto ao trasfogueiro. E assim obtíamos mais uns quartilhos deste tão apreciado e dourado produto caseiro.

A bem apetrechada Cooperativa de Olivicultores de Valpaços, com instalações e equipamentos modernos, recebe anualmente à volta de 11.000.000 kg de azeitona donde se extraem cerca de 1.750.000 L de azeite virgem extra com acidez média de 0,2º.

Ali pudemos acompanhar de perto e a par e passo o processo da recepção, pesagem e tratamento da azeitona dos associados da Cooperativa, seguindo ainda no exterior do edifício as várias etapas do processo de laboração desde a lavagem da matéria prima com extração das impurezas e recolha de amostras fidedignas para assim determinar o rendimento da colheita entregue. Procede-se logo após, já no interior das instalações, à moagem da azeitona, recolha e filtragem do azeite e outras operações, até concluir todo o processo de produção, armazenamento, embalagem e comercialização do azeite Rosmaninho.

Este produto de excelência, que muito contribui para o sabor típico das nossas alheiras, folares, fumeiro em geral e demais iguarias saboreadas gustosamente em nossas casas ou nos restaurantes, adquire um paladar especial quando acompanhado dos bons vinhos da Região de Trás-os-Montes.

O Azeite Rosmaninho da Cooperativa de Olivicultores de Valpaços, cuja matéria prima é obtida nesta vasta zona da Terra Quente Trasmontana, bem como o azeite produzido pelos vários olivicultores da AOTAD, se já é consumido no dia a dia por quem visita a nossa Região e mais ainda por quem vive e trabalha nos municípios do Alto Tâmega e Barroso, bem merece ser divulgado por todo mundo.

Com as medalhas que vai obtendo nos muitos concursos e provas cegas em que é apresentado para competir com múltiplos e variados produtos concorrentes, tornou-se um verdadeiro ex-libris valpacense.

As variedades Cobrançosa, Madural e Verdeal do Azeite Gourmet Rosmaminho são prova disso mesmo. Na Olive Japan 2021 a Medalha de Ouro ali atribuída foi ganha pelo Rosmaninho Verdeal da Cooperativa de Olivicultores de Valpaços.

Ao deixarmos Trás-os-Montes, alegres e satisfeitos com o que vimos e degustámos, cumpre-nos saudar e dar os parabéns a quem tão bem nos recebeu. E já agora, uma palavra de incitamento aos autarcas, dirigentes e associados de empresas e cooperativas agrícolas para seguirem em frente com o seu trabalho.

E que valorizem cada vez mais a nossa terra e tudo o que de bom ela produz, sem esquecer o aproveitamento devido quanto aos recursos naturais. Continuando a manter o meio ambiente saudável onde haja abundância de água e bons ares, poderemos cativar quem nos visita e atrair também cada vez mais os tão desejados turistas.

Para que tal aconteça, oxalá que os projetos, abrangidos pelo Orçamento do Estado ou à espera dos fundos europeus, disponham já das verbas prometidas. Quem vive e trabalha no Interior Norte do País, ou seja, na almejada Região de Trás-os-Montes e Alto Douro, tão carente e necessitada de empreendimentos e ações concretas, aguarda urgentemente que os nossos Autarcas, Governantes e Dirigentes, em sintonia perfeita com os cidadãos, sejam eles empresários ou simples trabalhadores residentes nas aldeias, promovam ações de desenvolvimento duradouro e sustentável para ver se, uma vez debelada esta inflação que tanto nos aflige, poderemos ter dias e  tempos cada vez melhores.

 

 




[1] Local escondido e secreto onde eram armazenadas mais valias da colheita que em vez de serem entregues ao cliente a quem foi prestado o serviço, tinham como destino este reservatório fraudulento, criado para benefício direto dos lagareiros sem escrúpulo.

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