Comecei a ler o DIÁRIO DE UMA AVÓ E DE UM NETO cuja leitura me vai suscitar certamente boas e más recordações. Fica a saber desde já o seguinte: sou mais novo que a tua avó adotiva 3 meses exatos, mas para saberes quem sou e comprovares a minha identidade terás de ir À PROCURA DE ALGO, iniciando a pesquisa na freguesia de Alcântara onde te conheci e fixei residência em 1967, seguindo depois até à aldeia transmontana onde nasci e me refugio de vez em quando para respirar ar puro, conviver com familiares, conterrâneos e amigos, ocupando o meu tempo de reformado e agricultor sénior da melhor maneira possível.
Que bom é chegar ali, depois de confinado semanas e meses em Cascais e Lisboa, contemplar diariamente a natureza, respirar o ar puro e saudável desse Reino Maravilhoso, despertando com o chilrear dos passarinhos!
Mas se quiseres continuar a pesquisa, podes seguir as aventuras de uns netos fictícios, por mim adotados, através do site: www.osprimos.com de Mafalda Moutinho, minha filha, da tua idade e colaboradora como tu da LeYa-Edições Dom Quixote.
Como presentemente estamos por cá, talvez possamos reencontrar-nos na Biblioteca de Alcântara cujo espaço frequento como leitor e aluno da UAS, onde te conheci e tive a dita de recolher a dedicatória escrita neste diário que prometes continuar.
Porque escutei atentamente o relato e divulgação das iniciativas que desenvolves “com o objetivo de valorizar os mais velhos e falar da importância da ligação entre avós e netos” e a Patrícia Cara de Anjo, que nos seguia através do ecrã por estar confinada em casa, me incentivou a participar nos Retratos Contados de que és mentor, aqui estou a responder ao desafio.
Como aluno da UAS, curioso e atento aos benefícios que espero obter neste intercâmbio, aqui estou a expor desde já o que penso, escrevendo emails a pedir explicações e levantando dúvidas, à medida que a leitura prossegue e quando surgir oportunidade para tal.
Porque tens uma caligrafia sui generis e não decifrei completamente a mensagem da dedicatória exarada no exemplar que adquiri, sou impelido a adivinhá-la, pedindo desde já muitas desculpas por este meu atrevimento
Idêntica atitude poderei adotar aquando do perpassar das páginas, cujo conteúdo e mensagem me aguçam a curiosidade e despertam o engenho para ler nas entrelinhas, detetar gralhas (“ Basta fizer que a capital”… em vez de “Basta dizer que é a capital”), como podes comprovar na 1ª linha da página 11 e algo mais que as circunstâncias me sugiram.
Como a partir de 1967 - ano em que vim para Lisboa - me habituei a ler diariamente a imprensa alfacinha censurada e pude seguir à distância os reflexos do maio de 1968, como trabalhador estudante, oficial miliciano, professor, psicólogo profissional…, naquela meia dúzia de anos que antecederam a data gloriosa do 25 de abril de 1974, fui esmiuçando cada vez mais a curiosidade na leitura das entrelinhas para melhor decifrar e compreender as mensagens encobertas.
Agora já reformado, agricultor sénior à distância, aluno da UAS, avô de quatro netos, mas que felizmente vivo ainda na companhia de minha mulher, dispondo das atenções e benesses da minha Junta de Freguesia sediada na Área Metropolitana de Lisboa bem como da presença constante de filhas, genros, netos e sobrinhos prontos a ajudar se tal for necessário, que poderá fazer ainda este velho para que a nova geração herde de nós algo apetecível de modo a termos um futuro sustentável e promissor?
À semelhança do que vens fazendo, em ligação muito direta e em sintonia perfeita com a tua avó adotiva, permite-me o seguinte comentário à primeira carta cuja paternidade/maternidade não destrinço como deveria.
É que embora seja dirigida a uma destinatária bem conhecida pelos seus contemporâneos, filhos e netos que têm convivido com ela de perto, também há sobrinhos, primos e amigos do peito do Nélson e da Alice interessados em ler, perceber e decifrar as mensagens expressas ou encobertas nestas páginas todas cheias de ensinamentos e conselhos capazes de suscitar grandes reflexões.
Por isso me atrevo a fazer desde já algumas considerações. Assim como as medalhas têm verso e reverso, em tudo o que lemos, ouvimos e vemos no âmbito deste diário também existe a possibilidade de emitirmos opiniões variáveis porque todos nós somos diferentes uns dos outros.
Se neste momento assumisse o papel de um professor exigente, como eram alguns docentes de outrora, ou incumbido da censura no tempo do Estado Novo, seria levado a dizer-te que estás a plagiar a fonte donde brota a tua inspiração, assinalando a azul ou encarnado alguns parágrafos, períodos ou frases que vais escrevendo, mas como vivemos em liberdade e podemos exprimir abertamente o que nos vai na alma e no pensamento, tenho é que felicitar-te pela simbiose perfeita que há neste diário entre avó e neto, onde não distinguirmos bem a incumbência de cada um.
Como a mensagem a transmitir é a mesma e a linguagem que usas parece herança recebida para ter continuidade, em vez de censurar-te como faziam os esbirros da PIDE, vou seguir o exemplo da avó adotiva que escolheste.
Seguindo o vosso percurso pelas ruas de Lisboa e de Alcântara, podemos conhecer e redescobrir muito do que ainda ignoramos e precisamos de aprender, e ela ficará muito orgulhosa dos netos adotivos como tu, que tão bem sabem captar e difundir a filosofia de vida e as histórias contadas por esta avó, valorizando e reforçando assim os laços que existem e devem existir entre todos nós.
Com recados tão sentidos e atuais, os mensageiros e leitores desta boa nova, sejam eles netos ou avós, todos devem apregoá-los aos quatro ventos para não sermos classificados como pessoas sós e abandonadas, nesta pandemia que nos confina.
Porque na parte final da Introdução fazes referência a El Chaco – a província mais miserável da Argentina – onde nasceu o nosso Papa Francisco que para o ano promete vir a Portugal presidir à Jornada Mundial da Juventude, não deveriam os avós e netos portugueses seguir o exemplo de Mempo Giardinelli, difundindo aos quatro ventos o que uns e outros pensam, sugerem, pedem, necessitam e é possível fazer para que os velhos de todo mundo possam viver felizes e contentes?
O abraço recebido por quem há mais de 30 anos não experimentava o colo de avó, como referes na parte final da tua carta, faz-me lembrar os confins do mundo donde veio o Papa Francisco, imaginando que os seus conterrâneos, familiares, amigos, crentes e não crentes… ali continuam à espera de uma oportunidade para receber os seus afetos e a bênção apostólica.
Se os padres pudessem casar, constituir família, ter filhos e netos como acontece ao cidadão comum e o Papa tivesse descendência consanguínea, viveria ele todos estes anos em Roma sem ter programado uma viagem à Argentina, pátria onde tem as suas raízes, para aí matar saudades e abraçar os entes queridos? Penso que tal seria impensável.
Para cumprir esse desígnio, não poderíamos nós, jovens e velhos, entregar algo ao Papa nesse sentido, quando ele vier a Portugal?
Como nós em 2023 vamos ficar agradecidos com a presença do representante máximo de Cristo Redentor, desejaríamos que os jovens, adultos, netos e avós argentinos, e quem vive noutras paragens sem ter usufruído ainda de tal dádiva, pudessem receber uma Visita Apostólica assim.
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