A MINHA LIGAÇÃO À ANTIGA ESCOLA FERREIRA BORGES SITUADA NA RUA DIAS COELHO 
No ano letivo 1967-68, quando vim para Lisboa e tive de aguardar incorporação no Serviço Militar, escolhi o Alto de Santo Amaro como zona de residência, situação que ainda mantenho. Nos dois primeiros anos de casado vivi num dos apartamentos da firma J. Pimenta, situado na Reboleira Sul-Amadora, mas desde que aluguei casa na Rua Filinto Elísio em 1973 e adquiri em 1992 um andar na Rua dos Lusíadas, a minha residência oficial é esta. O mesmo acontece com a sede de GITIC, LDA - Gabinete Internacional de Tradução, Interpretação e Congressos, empresa de que eu e minha mulher somos proprietários, com escritório no nº 2-2º-K, mesmo ao lado da estação dos CTT na Rua dos Lusíadas. 

Como o ISCSPU onde estudei e obtive a licenciatura em Ciências Sociais e Política Ultramarina ficava na Rua da Junqueira, pude como trabalhador estudante dar continuidade à Licenciatura em Filosofia e Letras obtida na Universidade Pontifícia de Salamanca bem como aos cursos de Teologia, Filosofia e Humanidades, anteriormente iniciados e concluídos no Seminário de Vila Real. 


Porque tinha de fazer pela vida na capital do País e dispunha de tempo livre, iniciei a minha atividade profissional como Professor do Ensino Particular em alguns Externatos e Salas de Estudos da zona, bem como na Escola Fonseca Benevides e na Casa Pia de Lisboa, tendo prestado serviço como escriturário-tarefeiro durante esse ano letivo na Regência de Estudos da Secção de Pina Manique. No ano 1969-70, estando no Centro de Estudos Psicotécnicos do Exército em Caxias a cumprir o Serviço Militar obrigatório como Psicólogo Militar e com horário disponível para dedicar-me a outras atividades – só estávamos ocupados durante as tardes e quando aos sábados nos cumpria fazer de Oficial Dia – ia ocupando o tempo como podia e para auferir também melhores proveitos. Com as facilidades, atenções e estatuto de que gozavam os Psicólogos Militares e como fruto do convívio e bom relacionamento mantido com o meu superior direto, com os camaradas oficiais, sargentos, praças e não só, durante o Serviço Militar continuei a ser professor na Casa Pia de Lisboa tendo percorrido e conhecido bem de perto as Secções de Pina Manique, Xabregas e Santa Clara, donde saí em 1972 quando fui admitido como técnico superior na Federação das Caixas de Previdência e Abono de Família. 

Quando surgiu a hipótese de ser professor nos cursos noturnos ministrados na Escola Fonseca Benevides, aproveitei logo a oportunidade para candidatar-me uma vez que esta Escola, além de ministrar o Curso Industrial de Química em Santos e ter a sede na Rua dos Lusíadas, onde eram dadas as aulas teóricas e práticas dos cursos gerais e da Secção de Electrónica, ficava próximo da casa onde eu vivia. Uma vez formalizada a candidatura junto do chefe da Secretaria, senhor Caleça, ali exerci funções docentes durante seis anos, primeiro em regime noturno com horário reduzido, e desde 1-10-1974 até 30-09-1976 com horário completo de 22 horas semanais. Em 1-1-1977 dei por concluída a minha prestação de serviço como professor do ensino oficial porque fui admitido na Radiotelevisão Portuguesa, donde saí em 2005, aguardando a reforma e aposentação a que tinha direito e usufruo. Neste mesmo ano e até 2009 frequentei como aluno extraordinário o Instituto Superior de Agronomia em regime livre, tendo como colegas nas aulas teóricas e práticas de Horticultura, Viticultura e Olivicultura os colegas do ISA que acompanhei também por esse País fora, nas aulas, visitas de estudos, palestras e cursilhos orientados pelos nossos professores. Porque sempre estive e ainda estou ligado às aldeias valpacenses onde tenho as minhas raízes, divido o meu dia a dia entre Lisboa-Alcântara, Cascais e Trás-os-Montes, o que muito me apraz. No tempo da chamada Primavera Marcelista, em consequência da adesão de Portugal à EFTA e porque o esforço que tínhamos pela frente com a Guerra do Ultramar assim exigia, a economia portuguesa crescia a bom ritmo e não havia desemprego. Mas como o nível de escolaridade do País era muito baixo e uma boa parte dos mancebos alistados no Exército ou eram analfabetos ou tinham apenas a escolaridade básica, muitos adultos que desejavam adquirir habilitações literárias necessárias ao prosseguimento de estudos, inscreviam-se nos Externatos e Salas de Estudo particulares e nos Cursos noturnos das escolas oficiais, de modo a obterem pelo seu esforço e dedicação, o acesso aos graus de ensino, cujo direito é reconhecido hoje a todos os nossos compatriotas jovens, mas que a sociedade e o Estado não proporcionou a milhares e milhares de adolescentes na vigência do Estado Novo. Para os privilegiados que frequentavam o Ensino Superior também havia grandes contrariedades e desafios a vencer. 

Os que não passavam de ano e ficavam privados do adiamento de incorporação militar eram logo recrutados para os cursos de CSM ou COM, tendo como destino os três ramos das Forças Armadas. Desses cursos saíam furriéis, sargentos e oficiais milicianos para as várias especialidades militares de acordo com as aptidões psicológicas, capacidades detectadas e os conhecimentos teóricos e práticos demonstrados. A grande maioria, porque assim o impunham as Ordens de Serviço emanadas dos gabinetes oficiais, tinha como destino a Infantaria, de acordo com as ordens e directrizes de quem dirigia e ordenava. Os licenciados em Medicina, Psicologia, Filosofia e outros cursos com ligação direta ou com possibilidade de serem selecionados para especialidades militares específicas de acordo com as necessidades do contingente, uma vez concluído o segundo ciclo do COM onde era recebida a formação complementar exigida pelas funções que iriam desempenhar, ficavam a aguardar a mobilização e a guia de marcha para um meio desconhecido, algures no teatro das guerras de além mar. Porque certas especialidades militares e funções de empresas tecnológicas concorriam entre si no que dizia respeito ao recrutamento e admissão de candidatos detentores de cursos técnicos, algumas Escolas Oficiais tomaram a peito a reestruturação de cursos para formação de profissionais de modo a colmatar algumas necessidades que era preciso satisfazer no que dizia respeito ao mercado de emprego nacional e ao serviço militar. Alcântara e Belém, freguesias dotadas já com um número de estabelecimentos de Ensino Secundário Liceal e Técnico razoável, não podiam ficar atrás das outras zonas de Lisboa e do País na preparação dos alunos e candidatos aos cursos de Eletricidade, Electrónica, Contabilidade, Gestão Administrativa e outros tão necessários e requeridos nesses tempos. 

Se na freguesia de Belém os alunos dos Cursos Industrial ou Comercial da Secção de Pina Manique da Casa Pia de Lisboa bem como os que frequentavam a Escola Industrial Marquês de Pombal, uma vez concluída a respetiva Secção Preparatória tinham acesso direto ao Instituto Industrial ou Comercial respectivo, as Escolas Fonseca Benevides e Ferreira Borges sediadas em Alcântara, zona bem servida de outros estabelecimentos de ensino como os liceus Rainha D. Amélia e D. João de Castro e a Escola Francisco Arruda, tinham de acompanhar também e seguir de perto esse desafio. Quanto à Escola Ferreira Borges e ao grande incremento que teve depois de mudar de instalações da Rua J. Dias Coelho para o Alto de S.to Amaro, tendo em conta o testemunho vivo e atual do grupo que vem recolhendo dados e compilando memórias, pouco tenho a acrescentar. Mas porque as instalações da Escola Fonseca Benevides onde eu lecionava eram insuficientes para acolherem o grande número de alunos dos Cursos noturnos e tivemos de recorrer a salas de aula disponibilizadas pela antiga Ferreira Borges, é nessa situação e circunstâncias que pude conhecer e usufruir o espaço interior desta Escola no inicio de alguns anos letivos, e sempre que na Rua dos Lusíadas não havia espaço bastante para receber e acomodar os muitos alunos inscritos na EFB. 

Volvidas tantas décadas, depois de saber que um edifício, depois de ter sido residência da família Burnay, virou escola, ficou desativado…, e hoje nos oferece funcionalidades tão atrativas e modernas, é com imensa satisfação que frequento e tiro proveito destas novas instalações da Biblioteca Municipal de Lisboa - Secção de Alcântara. Porque aqui funciona também a Universidade Alcântara Sénior, instituição que me colhe como aluno e onde participo também como leitor ou em grupos de trabalho, conferências e seminários de âmbito polivalente, resta-me dar os parabéns e agradecer a todos quantos nos proporcionam tudo isto.

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