FOLAR DA PÁSCOA, QUE SABOR TEVE ESTE ANO?
Desde 1999 que venho participando
nas Feiras do Folar que a Câmara Municipal d
e Valpaços e a Casa de
Trás-os-Montes e Alto Douro, em perfeita sintonia, resolveram instituir e vêm
realizando anualmente.
Este ano, se não pude estar
presente no Pavilhão Multiusos de Valpaços, pude segui-lo à distância uma vez
que foi transmitido em direto pela TVI.
| Almoço convívio na ACRAM |
E que prazer senti ao retomarmos
estas iniciativas, após dois anos de interregno, devido à pandemia!
Uma vez cumprido o que muitos
milhares de forasteiros e participantes das Feiras do Folar fazem para adquirirem
este opíparo manjar valpacense, dando assim início à quadra pascal, não posso
esquecer também o que estas mini férias da Páscoa, gozadas em Midões e Vale de
Espinho na companhia de minhas filhas, genros e netos, me proporcionaram.
Se o Avril au Portugal,
desde que o Estado Novo de Salazar lançou este
slogan para atrair turistas, é um mês muito celebrado, com maior alegria
e pujança o podemos dizer a partir de 1974, com o Revolução dos Cravos que
festejou há dias o seu 48º aniversário.
Não obstante a ameaça da
Covid-19 e o facto de o mundo estar em guerra, como demonstram as imagens de
horror provenientes da Ucrânia, este ano a família optou por reunir-se na
aldeia transmontana onde temos as nossas raízes, provando assim que estamos
vivos e cheios de esperança num futuro melhor.
Para que tal aconteça de
facto, impõe-se que os autarcas e o Governo do País, recentemente empossado e
em plenitude de funções, definam objetivos ajustados às circunstâncias e que
sejam partilhados por todos nós.
Nesse sentido, que planos têm
os dirigentes municipais e autárquicos com sede na Capital do Folar? Se até
aqui promoveram muitos eventos que beneficiam diretamente a sede do Concelho,
como é da praxe, a partir de agora não podem olvidar-se das freguesias e aldeias onde há também carências
a suprir e projetos a implementar.
Se é previsível que bens
imprescindíveis à satisfação das necessidades primárias do homem e até mesmo
dos animais podem vir a faltar nas prateleiras dos supermercados ou nos
armazéns, e nas aldeias há hectares e hectares de bons terrenos agrícolas – embora
alguns deles estejam de pousio ou abandonados – que incentivos deve haver para
os agricultores que os produzem e cultivam respetivamente?
Ter mesa farta, despensa cheia,
adega e palheiro bem providos…, era motivo de orgulho e forte estímulo para os
nossos antepassados que viviam do que a terra dava, seguindo à risca a economia
de auto suficiência. E se comercializavam também nas feiras e supermercados da
zona os excedentes produzidos, porque é que o mesmo não se verifica hoje?
Num Estado Social Democrático,
cumpridor e atento às circunstâncias, se é inconcebível ouvir falar de pessoas que,
além de não disporem do mínimo indispensável no dia a dia, têm de suportar o
aumento desmedido da inflação, também não é bom ler e comprovar que muitos
excedentes agrícolas ficam a apodrecer nos campos, sem utilidade para ninguém.
Para corrigir estas assimetrias,
quando é que haverá intercâmbio direto entre os supermercados dos meios urbanos
e os agricultores das nossas aldeias, com o intuito de se produzir mais e
melhor, de modo a satisfazer os gostos e preferências dos consumidores, cada
vez mais depauperados?
Se todo cidadão deve ver
satisfeitas as necessidades primárias do dia a dia, não causará pena ver
hortaliças, legumes, tubérculos, frutas e muitos outros produtos a apodrecerem
nos campos onde, além de haver escassez de mão de obra para recolhê-los, não
chegam compradores/intermediários para os fazerem chegar aos supermercados?
Para que haja interligação
direta entre os centros urbanos onde há carência de bens de consumo e as
aldeias do Interior do País onde os produtos agrícolas são excedentários, que
atitudes devem assumir os órgãos autárquicos e os cidadãos em geral, de modo a
evitarmos possíveis reivindicações e protestos de consequências imprevisíveis?
Não será altura de as
entidades responsáveis encararem de frente o problema, dotando a Região
Transmontana dos tão badalados fundos e subsídios Estatais e Europeus, no
intuito de cativarem empreendedores ousados, atentos e capazes de corresponder
aos desafios a vencer?
As associações e cooperativas
concelhias, a quem competiria colaborar nessa missão, dispõem de estrutura,
organização e métodos adequados e consonantes com as circunstâncias atuais? Que
fazer então para que os bens de excelência produzidos e a produzir em Valpaços
tenham comercialização e venda garantida ao longo de todo ano, chegando atempadamente
e a preços módicos aos consumidores, e atrativos para quem os produz?
Se o Folar de Valpaços, o
azeite Rosmaninho, o vinho Ponte do Arquinho, os produtos da Castemonte, a
grande variedade de amêndoas, frutícolas
e outros bens alimentares aqui produzidos, têm consumidores fidelizados e
possibilidade de crescimento sustentável, porque é que os agricultores,
cooperantes e dirigentes associativos não colaboram mais entre si e se
organizam de modo a garantir bons resultados, com proveito para todos nós?
***
Nesta quadra festiva em que relembrei
com saudade os meus entes queridos bem como os tempos da minha infância e
adolescência – fazes etárias por que passam agora os meus netos – quanto eu desejava
receber na minha casa da aldeia, a visita do Pároco e demais acompanhantes do
Compasso Pascal!
Apesar de este ano não termos vivido
esse momento, com a saudade e as memórias de outrora bem presentes, pudemos
recordar esse passado, imaginando ouvir ao longe o dlim dlão da sineta e logo após
o sacristão, o homem da Cruz e da caldeirinha, seguidos dos elementos do
cortejo e do senhor Cura que alegre e sorridente entrava portas dentro aspergindo
água benta pela casa e por todos nós, dizendo alto e bom som:
Pax hic domo et omnibus habitantibus in ea! Alleluia!
Alleluia! Boas Festas! Boas Festas! Até daqui a um Ano!
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